Em tempo de isolamento, o que mais tenho recebido são reclamações de mães e pais sobre a quantidade de aulas online, tarefas, provas (sim, provas!), trabalhos, lições de casa (oi?) e outras atividades que as escolas enviam semanalmente desde que nós instituímos a quarentena e isolamento social como medida preventiva ao Covid-19. Gente, será que esses professores estão malucos? Provavelmente sim.
Desde que a quarentena iniciou, há cerca de 3 semanas, além dos profissionais da saúde que estão na “linha de frente” do combate ao Covid-19, provavelmente a categoria profissional mais exigida nesse momento seja a dos professores. Mais que ninguém, esses profissionais precisaram se reinventar da noite para o dia, com o mesmo medo de todos os brasileiros de perderem seus empregos, preservarem a sua saúde e dos seus idosos, terem condições para lidar com o trabalho e as demandas domésticas ao mesmo tempo, garantirem espaço de saúde mental para si e seus filhos… Esse bando de professores com certeza “pirou o cabeção” … só podem estar loucos!
Mas também, imagine o seguinte: uma área que era orientada por relações afetivas, por uma proposta de formação necessariamente presencial, humanizada, onde o cheiro do aluno, a meia do avesso, o olho no olho, o abraço apertado, o comportamento adequado (ou não), os relatos do fim de semana, os silêncios pós fim de semana, e as infinitas variáveis que constituem a sala de aula,de repente, sumiram! E deixaram de protagonizar a relação ensino e aprendizagem. Imagine que agora, além de se preocuparem com a qualidade do conteúdo oferecido e a absorção por parte das crianças, os profissionais precisam considerar que os pais não tem a formação deles, não são pedagogos ou licenciados em áreas pedagógicas (apesar de muitos acharem que são), não sabem (e infelizmente, muitos não tem interesse) ensinar e acolher as dúvidas dos filhos, e ainda, estão ali, de “papagaio de pirata“, praticamente dentro da sala de aula (online), como nunca antes estiveram, avaliando diariamente o trabalho do professor. Nossa… esses caras não desistiram ainda? Eles devem mesmo estar malucos!
Eu, no lugar deles, provavelmente “jogaria a toalha” e iria cuidar da minha saúde mental. Mas se assim fosse, eu no lugar deles, não teria escolhido ser professor. Professor não joga a toalha! Essa sim é uma escolha de maluco… Mas lá atrás, quando esse professores fizeram essa escolha, quando se especializaram para esse trabalho, ninguém avisou que eles teriam que lidar, sem aviso prévio, com aulas online e com a missão de garantir qualidade de ensino num cenário de guerra como esse. Em nenhum momento, esses profissionais sabiam que na pior hora, onde precisariam de tranquilidade, boas ideias, formação, e principalmente, acolhimento e parceria para se reinventarem, muitas famílias, aquelas mesmas às quais eles se dedicam diariamente, seriam pouco sensíveis aos esforços de madrugadas e finais de semanas para preparar materiais e vídeo aulas. Imaginem vocês que eles não sabiam que em meio à uma pandemia, a população do mundo inteiro estaria em suas casas podendo sentir, viver, se adaptar e planejar as quarentenas e “lock downs” enquanto aguardam ansiosamente pelas suas entregas… eles não sabiam que não poderiam parar de produzir. Imaginem que eles não sabiam que teriam que se tornar editores de vídeos, de apostilas, especialistas em ferramentas digitais e EAD, do nada… e mesmo assim, continuariam lá! Essa galera só pode estar louca mesmo, não é possível!
E pensando nisso tudo, esse texto cheio de ironia e com muito amor envolvido foi pensado para trazer um pouco de carinho e saúde mental para esses profissionais, porque na boa, se eles (também) surtarem, nós, pais, ficaremos ainda mais sem chão. Calma… espera aí! Eles não podem surtar por nossa causa? Para nos acolher? Estou novamente pressionando os professores? Estou transferindo para eles as minhas aflições de mãe? Uau! Vocês percebem como nós fazemos isso com as escolas, mesmo sem querer? Já fazíamos sem Coronavírus, imaginem agora! Represento aqui a esmagadora maioria das família que estão sensíveis aos esforços dos profissionais da educação, que percebem diariamente essa redescoberta. De famílias que se emocionam com cada passo nosso nessa jornada… NOSSO MESMO! Estamos juntos nessa caminhada inesperada e imprevisível. Que sorte a nossa termos vocês, educadores, pensando nos nossos filhos junto com a gente, no momento mais esquisito das nossas vidas! Obrigada por serem malucos e continuarem ao nosso lado. Que esse momento passe logo e que vocês, finalmente, sejam olhados com o respeito e o reconhecimento que a profissão sempre mereceu… agora então, nem se fala! É absurdo que em pleno ano 2020 a gente ainda precise discutir o reconhecimento da profissão docente! Mas esse assunto é pra outro dia. Preciso ir. A professora da minha filha acabou de mandar a agenda e conteúdo da semana. Obrigada professora! E mãos à obra!
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